Você já parou para imaginar como deve ser a experiência do Yoga na Índia? Compilamos aqui algumas visões interessantes para saciar sua curiosidade.
É muito comum que, ao se iniciar no caminho do yoga, praticantes tenham a curiosidade de ir à Índia — o berço da atividade. Afinal, acabamos ouvindo de professores e colegas de prática que o Yoga na Índia é uma experiência à parte.
E é acreditando nisso que tantas pessoas buscam esse país como destino para o que, internacionalmente, é chamado de yoga tourism (em tradução livre: turismo de yoga). No Brasil, é mais comum você encontrar esse tipo de experiência através do termo “turismo de bem-estar”, que abrange também outras práticas.
Independente do nome que recebe, fato é que, no Brasil e no mundo, esse estilo de turismo movimenta milhares de pessoas em direção à Índia. Mas o que será que acontece por lá que difere tanto dos espaços em que praticamos yoga por aqui?
O que podemos esperar quando o assunto é yoga na Índia?
As respostas para essas e outras perguntas você encontra aqui. E já adiantamos que vai muito além da prática, algumas vezes, até mesmo esbarrando em ideologias políticas. Inesperado, certo?
Confira abaixo o resumo deste texto:
- Yoga na Índia: quais são os diferenciais?
- Onde praticar yoga na Índia?
- Os retiros de yoga na Índia
- Como posso praticar yoga na Índia?
- Para além da prática: o yoga como ferramenta política
- A relação entre o yoga e a extrema direita
Yoga na Índia: quais são os diferenciais?
Os diferenciais da experiência do yoga na Índia são, geralmente, o principal fator que os viajantes consideram, quando o objetivo da viagem é a própria prática. A ideia é encontrar lá, algo que você pode ter mais dificuldade de encontrar no Brasil ou onde quer que pratique.
Mas, afinal, quais são esses diferenciais? Em resumo, podemos dizer que se trata de uma experiência completamente imersiva. E isso inclui fatores como:
- Professores nativos
- Maior proximidade com a cultura local e do yoga
- Novos desafios
E por que essas coisas são importantes?
Professores nativos
A ideia de praticar yoga com professores nativos é, para muitas pessoas, um dos principais diferenciais e atrativos em uma viagem de yoga na Índia. Isso porque é de lá que vem os principais nomes do yoga.
E também é lá que muitas dessas pessoas dão aulas.
Na reportagem do vídeo abaixo, por exemplo, você pode conferir a modelo e apresentadora Fernanda Lima em uma viagem à Índia para aulas com a mestre Saraswathi. A professora é a primeira mulher a dar aulas de Ashtanga yoga na índia, e filha de K. Pattabhi Jois, guru que desenvolveu a modalidade em questão.
Perceba que a professora de Fernanda Lima também está presente na viagem aperfeiçoando sua técnica. Então, a questão aqui não é que professores de outras partes do mundo tenham experiências e conhecimentos inferiores aos desses mestres indianos.
Na verdade, principalmente os próprios instrutores de yoga são quem tendem a buscar essa conexão mais direta com os grandes nomes indianos.
Então, é compreensível que, independente do seu nível na prática, exista essa vontade de beber direto da fonte.
Maior proximidade com a cultura local e do yoga
A proximidade com a cultura indiana e do yoga, em si, também atrai as pessoas interessadas em praticar yoga na Índia. Aliás, esse fator também influencia quando falamos de professores nativos. Afinal, estas pessoas não só praticam yoga, elas vivem a cultura em que essa atividade nasceu.
E quando você se introduz no espaço natural dessa cultura, pode experimentar o yoga de uma forma diferente. É comum, inclusive, encontrar relatos de pessoas que veem sua vida se transformar após a experiência de praticar yoga na Índia. Justamente porque são expostas a novas maneiras de ver a vida, o mundo e o próprio yoga.
Mas é preciso ter atenção para o que te oferecem como experiência de yoga na Índia. Trata-se de uma vivência real da cultura ou estão te vendendo uma visão entre yoga e Índia que não é verdadeira? Mais à frente, detalharemos esse dilema.
Novos desafios
Não é como se a sua rotina de yoga não fosse desafiadora.
Mas uma vez que você está em um local novo, com pessoas diversas, diferentes níveis de conhecimento, e em contato com novos aprendizados, as coisas mudam. Isso pode acontecer em um bairro vizinho, uma cidade diferente da sua e em outro país.
E quando tudo isso acontece na Índia — principalmente considerando os aspectos citados anteriormente — os desafios que você encontra provavelmente serão outros.
Como o yoga é um caminho de constante busca por evolução, desenvolvimento, aperfeiçoamento e harmonia, é natural buscar também esses novos desafios. E por isso, muitas pessoas acabam se interessando em viajar para praticar yoga na Índia.
Onde praticar yoga na Índia?
De acordo com matéria do Brasil de Fato, atualmente há mais espaços para a prática de yoga no Brasil e nos EUA do que na própria Índia. Mais à frente falaremos mais sobre isso. Mas antes, é importante dizer que, apesar dessa informação surpreendente, você pode encontrar retiros e aulas de yoga espalhados por toda a Índia.
Existe ainda uma cidade, em específico, que concentra uma parte expressiva das pessoas que buscam o país como um destino de turismo voltado para o yoga. Estamos falando de Rishikesh, situada no estado de Uttarakhand, e conhecida como a capital mundial do yoga.
O blog Mochilão a Dois aponta também as seguintes cidades como destinos interessantes para esse tipo de viagem: Goa, Kerala, Maharashtra, Karnataka e Mumbai.
Mas, antes mesmo de decidir qual cidade você deseja visitar, é importante entender que tipo de prática de yoga você procura na Índia. E não falamos só de métodos e modalidades, mas também da própria experiência.
Como você quer praticar yoga na Índia?
Você prefere se hospedar em um hotel/hostel e praticar em momentos pontuais ou investir em um retiro de yoga, onde a prática é o ponto central da viagem?
Se for o primeiro caso, é interessante pesquisar locais onde você pode encontrar diferentes modalidades. Assim, a experiência de praticar yoga na Índia, que já é bastante imersiva, pode se tornar ainda mais rica, já que você terá acesso a diferentes modalidades.
Obviamente você não precisa passar todo o tempo que estiver por lá testando tipos de yoga. O interessante é você experimentar e descobrir se você está no caminho — método — que deseja ou se outra prática pode te oferecer a harmonia que seu corpo, mente e espírito buscam.
Agora, se você deseja uma estadia em um retiro, outros fatores devem ser considerados.
Os retiros de yoga na Índia
Os retiros de yoga e meditação não são exclusivos da Índia. Aqui no blog mesmo já abordamos essa experiência e a possibilidade de realizá-la no Brasil, como no caso de retiros vipassana — que é realizado inteiramente em silêncio.
Mas, é comum que pessoas que querem praticar yoga na Índia busquem pelos chamados Ashram. Não faz ideia do que seja isso?
De acordo com o site Yogapedia, os Ashram geralmente são locais “isolados, separados do resto da sociedade. São lugares dedicados a atividades espirituais como yoga, meditação ou instrução religiosa.”
Atualmente, existem diferentes tipos de Ashram. Mas, no geral, esse tipo de ambiente funciona com uma dinâmica e rotina próprias. E a programação costuma ter horários pré-determinados para todos acordarem, realizarem as atividades em grupo e até as refeições.
Retiros com mais restrições, mas também mais imersão
No caso dos retiros mais restritos, você deve permanecer todos os dias do programa dentro do Ashram, seguindo a rotina e os horários determinados pelo local. E é comum que a programação inclua acordar bem cedinho (às vezes antes das 5 da manhã), diferentes práticas de yoga, exercícios de respiração, meditação e palestras.
As restrições podem parecer intimidadoras, mas é interessante focar no outro lado dessa experiência. Afinal essas limitações também permitem as circunstâncias necessárias para que seu período no Ashram seja de total imersão em suas atividades.
Como tudo isso ocorre em um ambiente tomado por quietude e calmaria, localizado longe da cidade, os relatos são de uma experiência transformadora. Isto porque visitantes contam que experimentam uma tranquilidade incomum e propícia para um mergulho no próprio interior.
Um pé no Ashram e o outro nas atividades externas
Há ainda os tipos de Ashram que dão maior liberdade aos seus hóspedes. Nesses casos, é apenas recomendada a participação em toda a programação do local. Ou seja, você não tem a obrigação de seguir toda a rotina do retiro à risca.
Além disso, nesse tipo de Ashram os hóspedes também costumam ter permissão para sair e visitar outros lugares. Então, se você busca um local calmo, em que você possa se dividir entre o yoga e o turismo, talvez essa seja a opção ideal.
Como posso praticar yoga na Índia?
Se você realmente quer viajar para a Índia para se aperfeiçoar no yoga, é preciso entender que, em termos de preparação, esta é como qualquer outra viagem. Ou seja, é preciso pesquisa e planejamento — principalmente se você nunca esteve por lá e não conhece pessoas que já passaram por essa experiência.
Então, antes de qualquer coisa, se informar é essencial! E a internet é uma ferramenta preciosa neste momento. Não deixe de procurar postagens em blogs e sites de avaliações de viagens para entender a experiência de outras pessoas nesses espaços.
Desta forma, você pode evitar as chamadas furadas. Para isso, você pode levar em consideração alguns fatores que são decisivos para que sua viagem seja bem aproveitada. Aqui vão algumas dicas do que você pode avaliar enquanto procura por uma experiência de yoga na Índia.
- A aula e o retiro estão em conta ou os valores são pouco acessíveis?
- Algum tipo de minoria não é respeitada no espaço das práticas?
- As aulas podem ser realizadas por qualquer pessoa, independente de limitações de mobilidade?
- O local que oferece as aulas é acessível para quem não fala o idioma local?
E por aí vai. Cada pessoa terá seus próprios critérios para encontrar a experiência mais próxima do ideal.
Para além da prática: o yoga como ferramenta política
A informação também é importante para entender como o yoga funciona na Índia, como é visto entre cidadãos de lá, e como influencia na política local/internacional. Porque, sim, o yoga é também uma ferramenta política.
Para começar, o yoga é considerado um soft power indiano. Isso quer dizer que a prática tem um potencial expressivo de influenciar o comportamento de pessoas de outras culturas. E, desta forma, acaba tornando positiva a imagem do país — e de seu governo — para o mundo. E é exatamente isto que percebemos quando observamos o quão popular o yoga é internacionalmente.
Um dado interessante para entender esse cenário aparece em uma matéria do Brasil de Fato. De acordo com o texto, a Federação Internacional do Yoga reconhece que a proporção de praticantes de yoga por população é maior nos Estados Unidos do que na própria Índia.
O dado é reforçado por uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, que revela que cerca de 62% da população indiana diz que nunca pratica yoga. E as razões para isso podem variar. Mas um fator crucial é a relação entre o custo desproporcional das aulas de yoga em relação à renda média das pessoas que vivem lá.
Lembra que anteriormente falamos que é importante ter atenção para o tipo de experiência de yoga na Índia que estão te oferecendo?
Agora você pode entender melhor a questão. Afinal, o cenário mostra que muitas vezes vende-se uma experiência que não é vivida pelas próprias pessoas indianas.
Então, até aqui, já dá para entender que o yoga é pouco acessível para a população local e uma frente forte para a influência da Índia no mundo, certo? Neste último caso, como já mencionamos, o governo local se beneficia. E nem sempre esse é um passo positivo para a cultura do yoga e sua difusão no mundo.
A relação entre o yoga e a extrema direita
O atual primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, é filiado da RSS, uma organização de direita e grupo paramilitar que busca propagar o nacionalismo hindu. E aqui vale lembrar que o yoga tem suas raízes na religião hindu, então, parte dos esforços desse governo também incluem a prática.
Modi, por exemplo, criou o Dia Internacional do Yoga (21 de junho) e um ministério que tem, entre seus objetivos, divulgar conhecimentos do yoga e de medicinas alternativas e tradicionais da Índia.
Mas, vale lembrar, que esses esforços são vinculados à uma ideia de nacionalismo hindu, sem considerar as minorias religiosas que vivem na Índia. Este é o caso dos muçulmanos, que têm suas comunidades atacadas por grupos de extrema direita que apoiam o atual governo e sua ideologia.
Por isso, até mesmo a ideia do yoga como um soft power, que poderia ser benéfico para o país e sua população, começa a ser encarada internacionalmente de forma negativa.
Em coluna no The New York Times, o matemático Manil Suri vai mais fundo. “O engajamento físico, a disciplina mental e a sublimação do desejo consagrados no yoga se fundem perfeitamente, mas discretamente, com os princípios mais militaristas de organizações como RSS,” afirma.
Vale lembrar, no entanto, que o yoga não é uma posse da extrema direita e que existem experiências genuínas para vivenciar em práticas realizadas na Índia.
Então, antes de se aventurar por lá, pesquise e entenda exatamente as propostas que te oferecem.