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Você conhece? Movimento Black Power no esporte

O início dos protestos antirracistas que tomaram as ruas dos Estados Unidos no final do mês passado e início de junho tiveram uma faísca bem específica: o assassinato de George Floyd por um policial. Infelizmente, a violência policial contra a população negra não é inédita nos Estados Unidos. Em 2014, a morte de Eric Garner por um policial em Nova Iorque iniciou um onda de protestos. Foi nesse contexto em que o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) ganhou um maior espaço nas mídias e entre a população no geral.

O atual momento dos Estados Unidos levou a discussões sobre o histórico do racismo no país, principalmente sobre o movimento da luta pelos direitos civis, que aconteceu entre as décadas de 1950 e 1980. Esse movimento lutou contra as políticas de segregação racial que era praticada a nível governamental. Isso significa que haviam leis que restringiam liberdades civis da população negra. Por exemplo, negros só eram permitidos em ocupar os bancos do fundo de um ônibus, haviam bebedouros e banheiros separados para pessoas brancas e negras. Pessoas negras não tinham o direito de estudar e erram barradas em restaurantes, cinemas e teatros. É nesse contexto que surge o movimento Black Power e que se espalhou para diversos espaços da sociedade, como o esporte. Isso é só um exemplo de como o esporte e política andam em conjuntos.

Compreender esse contexto é essencial para falarmos do ato histórico que ocorreu nas Olimpíadas do México, em 1968. Os atletas Tommy Smith e John Carlos, medalhistas de ouro e bronze na modalidade de 200m livres, quebraram o protocolo ao subir no pódio. Os atletas vestiram luvas pretas, cerram os punhos e levantaram o braço, fazendo referência ao movimento dos Panteras Negras e criando uma imagem que ficou para a história do esporte e da luta antirracista.

O partido dos Panteras Negras foi fundado na Califórnia, Estados Unidos. A base de suas pautas era formada pelo conceito da autodeterminação da comunidade negra e pela defesa de seus direitos. Mais do que um movimento que pregava a liberdade civil, os Panteras Negros também militaram contra as opressões do sistema capitalista. Essas ideias estavam refletidas em suas ações, em que eram formadas a partir de comunidades e focavam na questão do abuso policial sobre a população negra. Erroneamente, o Movimento dos Panteras Negras é taxado como um grupo que incitaria a violência. Na verdade, era a noção da autodefesa que guiava as ações do grupo. O objetivo era defender moradores de sua região que poderiam sofrer de abusos policiais. Uma importante liderança intelectual  do Partido e que defendia a luta pela autodeterminação negra foi Malcom X.  

Inevitavelmente, as tensões políticas desse período se refletiram no principal evento esportivo. O ato Tommy Smith e John Carlos representou a resistência que confrontava o racismo institucionalizado, a opressão policial e o segregacionismo do período. Esse gesto é conhecido como a Saudação do Poder Negro e o atleta John Carlos afirmou que:

“Eu queria criar um protesto para dizer ao mundo que o homem e a mulher negra dominam os Jogos Olímpicos, e essa Olimpíada em particular é uma Olimpíada negra para negros em todo o mundo”

O protesto de John e Tommy ressoam ainda hoje. Muitos atletas se inspiram no ato de 1968 para protestar contra as injustiças e o racismo que ainda é presente em nossa sociedade. Um exemplo recente foi o ato do jogador de futebol americano Colin Kaepernick, quarterback do San Francisco 49ers. Em 2016, o atleta se ajoelhou durante o a execução do hino nacional dos Estados Unidos para protestar contra a opressão da população negra do país.

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A série de TV Todo Mundo Odeia o Chris faz referência ao ato da Saudação do Poder Negro.

Conhecer o Poder Negro e o movimento dos Panteras Negras é importante para entendermos a situação atual da luta antirracista nos Estados Unidos e no mundo. Esses movimentos demonstram suas reivindicações e colocam luz nas opressões que, por muitas vezes, são ignoradas ao logo do nosso cotidiano. Tais movimentos são tão emblemáticos que perpassaram da vida real para a ficção, como a literatura, cinema e televisão. 

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