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Procrastinação e ansiedade: quando devo me preocupar?

Imagem de capa do texto sobre procrastinação e ansiedade. Na foto, uma mulher usando o notebook no sofá com um celular ao lado.

Saiba mais sobre a relação entre procrastinação e ansiedade. Você sabia que pode não ser apenas preguiça?


Você certamente já se deparou com uma situação em que cumprir uma tarefa parecia muito difícil. Um momento do trabalho, do estudo e do cotidiano doméstico em que você não encontrou forças para fazer o que realmente precisava.

E, em vez disso, qualquer coisa parecia atrair mais sua atenção, como outros afazeres, que não tinham a mesma prioridade. 

Todo esse cenário constrói a ideia da procrastinação, ou seja, deixar a realização de um ato para depois.

E apesar de ser um comportamento completamente normal, para muitas pessoas isso pode se tornar um problema, sendo um sintoma até mesmo de distúrbios psicológicos.

Mas antes de relacionarmos procrastinação e ansiedade, é interessante entendermos o máximo que pudermos sobre essas duas coisas.

Então, neste texto, além das definições, trazemos também uma visão profissional especializada, através de uma entrevista com a pesquisadora, tutora de meditação e estudante de psicologia Joyde Giacomini Martínez. E você pode conhecer mais do trabalho dela em seu perfil do instagram.

Confira abaixo o resumo do que você encontra neste artigo:

  • O que é procrastinação?
  • O que é ansiedade?
  • Existe uma relação entre procrastinação e ansiedade?
  • Estou procrastinando, e agora?
  • O quanto podemos procrastinar? 
  • Procrastinação e ritmo de vida 
  • Como agir quando procrastinação e ansiedade estão realmente relacionadas?

O que é procrastinação?

Como descrevemos ali em cima, a procrastinação acontece quando nossas tarefas prioritárias não ocupam o lugar de prioridade na prática.

Ou seja, é quando você precisa resolver aquele problema no trabalho, mas acaba se dedicando a outra resolução; quando você precisa conversar com uma pessoa, mas acaba deixando para depois.

Na verdade, esse termo “para depois” pode resumir perfeitamente a procrastinação. 

Quando algo deveria ser feito ou resolvido em um momento específico — ou o quanto antes — e deixamos para depois, estamos procrastinando.

E apesar de ser algo relacionado frequentemente à preguiça, precisamos desfazer este estigma. Além disso, quando a procrastinação não nos prejudica, é algo completamente natural.

E, nos demais casos, é que esse deixar para depois pode estar relacionado a motivos pessoais, incluindo transtornos psicológicos.

Um exemplo disso é a relação entre procrastinação e ansiedade, que abordaremos nos tópicos a seguir.

O que é ansiedade?

Antes de mais nada é importante entender que existe uma diferença entre ansiedade natural e transtornos de ansiedade. A ansiedade considerada natural é aquela que causa um friozinho na barriga antes de uma novidade, por exemplo.

Já os transtornos de ansiedade são aqueles que são identificados pelo sofrimento psicológico.

Em uma entrevista à Arimo, anteriormente, a instrutora de yoga Ana Ribeiro explicou de forma muito didática esses sofrimentos causados pelos transtornos de ansiedade.

“A ansiedade nada mais é do que estar sempre com a mente cheia, ativa ao extremo e, portanto, desfocada, confusa e insatisfeita. É viver cheio de cobranças e inseguranças, sempre um passo à frente,” afirma a professora.

Já a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde explica que “a ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações.” 

E nesses casos, quando a pessoa se vê impossibilitada de fazer algo em seu cotidiano, é quando os transtornos de ansiedade podem se relacionar com a procrastinação. Mas falaremos melhor sobre essa conexão no próximo tópico.

Existe uma relação entre procrastinação e ansiedade?

A relação entre procrastinação e preguiça é frequente, mas um tanto prejudicial.

Além de reforçar uma ideia de ritmo de vida acelerado e incessante, essa ideia também ignora que o ato de procrastinar de algumas pessoas é também sintoma. 

Não entendeu? A Joyde explica um pouco sobre como procrastinação e ansiedade se relacionam.

Arimo: A procrastinação pode não ser apenas uma questão de preguiça, mas sim um sintoma de diferentes questões psicológicas, certo? Quais são os distúrbios que comumente causam esse tipo de problema?

Joyde Giacomini Martínez: Raramente atribuo a procrastinação à preguiça.

Podemos sentir preguiça e fazer as coisas mesmo assim, certo? Percebo a procrastinação mais como o evitamento de algo que nos incomoda ou causa algum tipo de aversão.

E é curioso, porque frequentemente são coisas que adiamos por semanas, meses, até mesmo anos, que quando nos dispomos a resolver tomam 15 minutos. Então não é pelo esforço que está envolvido, não é pela preguiça. É pela parte emocional.

Como a procrastinação anda muito próxima da aversão, pode estar associada a uma porção de sentimentos e questões, como ansiedade ou autoimagem. Querer fazer tudo perfeitamente pode ser um bom motivo para procrastinar, por exemplo (e já que não dá pra fazer da maneira como queremos agora, deixamos mais pra frente).

Ter medo das consequências desse ato também, assim como ficar inseguro sobre a manutenção disso. Ou então ser algo que a gente não gosta de fazer mesmo.

Nem sempre é questão de termos um distúrbio. Pode ser bem mais simples, na verdade: podemos começar nos perguntando “por que eu estou adiando isto?”.

A gente nunca faz isso, né?

Preferimos partir para a culpa ou para a punição ou achar que somos preguiçosos ou com algum distúrbio mais profundo. Mas que tal termos curiosidade sobre nós mesmos e nosso funcionamento antes de qualquer reação?

Estou procrastinando, e agora?

Uma dúvida comum para qualquer pessoa que se depara com a procrastinação em sua rotina é: o que posso fazer. Independente de ser um caso mais natural ou aqueles em que há realmente uma relação com sintomas psicológicos, a procrastinação pode trazer sensações como angústia.

Apesar de fazer sentido em dado momento, o deixar para depois pode mesmo deixar uma baguncinha em nosso dia a dia.

Mas isso não quer dizer que é impossível de resolver. 

O que fazer quando estou procrastinando?

Arimo: Existem hábitos que podem ajudar a diminuir o nível de procrastinação?

Joyde: A nossa reorganização não deve tratar apenas de ter mais tempo para trabalhar e ser produtivo ou preencher todos os espaços vazios da agenda com atividades e planners, por mais saudáveis que pareçam.

A reorganização é para também termos tempo pra ser nós mesmos e respirar. Ser. Sentir. Saborear. Perceber. 

A meditação é o melhor hábito que conheço para alcançar isso — uma meditação bem ensinada, autônoma, que vá além de apps e guianças (que são um bom começo, mas só arranham a superfície do que ela é capaz de proporcionar). 

Ao restabelecer esse contato com nós mesmos, entendemos muito do nosso funcionamento, do que nos faz bem, renovamos energias e até mesmo nossa concentração.

Junto com a meditação (ou separado, dependendo do freguês) também vem o exercício da autocompaixão.

É a gente lembrar que é humano, passível de erros, do mesmo tamanho dos outros. 

A autocompaixão tem o lado que nutre e conforta, como um abraço quentinho. E também tem o lado que nos puxa pra frente quando necessário, que não nos deixa desistir e/ou nos dá forças pra lutar e tentar de novo.

Associado a tudo isso, ter uma rotina mais disciplinada também é um excelente hábito.

Há muita gente que torce o nariz para essas duas palavras por pensarem ser uma perda de liberdade, mas penso que é exatamente o contrário. Já sabendo o que devemos fazer e é bom para nossa rotina, não gastamos tempo tomando decisões, negociando se vamos fazer ou não, esquecendo coisas ou aumentando ansiedades. 

A disciplina são as regras que fazemos para nós mesmos com vistas a um objetivo maior. E essa é uma grande liberdade, já que deixamos de ficar sempre à mercê das tentações e desvios e de sermos escravos dos nossos próprios caprichos.

O quanto podemos procrastinar?

Já que existem diferentes causas para a procrastinação, é comum que algumas pessoas tentem entender até que ponto podemos deixar tarefas para depois. Mas já adiantamos: isso é algo completamente particular a cada pessoa.

Arimo: Existe um nível normal ou aceitável de procrastinação? Como podemos identificar quando ultrapassamos um possível limite?

Joyde: Não existe uma régua que possa medir níveis de procrastinação, muito menos uma que estabeleça o nível “correto” dela. Nosso melhor termômetro somos nós mesmos, sempre.

Até porque a procrastinação não é necessariamente ruim. Existe aquela, por exemplo, que dá espaço para o ar entrar e termos mais ideias, digerirmos um acontecimento, nos estabilizarmos emocionalmente, tomarmos consciência do que anda incomodando… e assim por diante. 

O problema é quando sentimos que a procrastinação nos afeta de uma maneira negativa, quando nossa vida ou áreas dela começam a ser seriamente prejudicadas e deixamos de fazer coisas significativas para nós e para os outros.

Aí sim pode ser o caso de prestarmos mais atenção e preocupação ao que está acontecendo. 

No fundo, a procrastinação, assim como vários sentimentos que costumamos entender como negativos, são sistemas de alerta que a nossa mente utiliza. Se ignorarmos, o problema permanece lá (ou talvez nem chegue a ser percebido). Se nos atentamos, muito pode mudar.

Tudo começa com a disposição de olhar pra si mesmo com sinceridade.

Procrastinação e ritmo de vida

Já entendemos que procrastinar de vez em quando é normal para qualquer pessoa, certo?

Mas você já se perguntou o motivo disso se tornar cada vez mais um incômodo e uma preocupação? Spoiler: o ritmo em que vivemos e produzimos hoje em dia pode dizer muito sobre isso.

Arimo: Você acredita que, atualmente, considerando o ritmo de vida e produtividade em que vivemos, a procrastinação pode ser um sinal de que precisamos desacelerar e nos reorganizar?

Joyde: Sem dúvida. Às vezes a nossa procrastinação é apenas um sinal de cansaço ou de precisar de um tempo pra si, o que é totalmente compreensível. 

A questão é que precisamos aprender a desacelerar todos os dias, não apenas no final de semana ou nas férias. Até porque se não aprendermos a relaxar, sequer vamos aproveitar esses curtos períodos de descanso. 

Vamos nos preocupar com o trabalho, com o que ficou por fazer, erros, prioridades não tão prioritárias assim… Para se reorganizar com sabedoria, é preciso estar desacelerado em primeiro lugar.

Como agir quando procrastinação e ansiedade estão realmente relacionadas?

Uma vez que você recebe o diagnóstico de transtorno de ansiedade, a tal da procrastinação pode ser melhor trabalhada em sua vida.

Isso porque você terá orientação profissional para repensar rotinas e adaptar afazeres à forma como sua mente está se comportando. 

Mas uma preocupação de algumas pessoas, nessa situação, pode ser a recepção de seus ciclos sociais sobre toda essa questão. E a figura de profissionais especializados também é de extrema importância para esse cenário.

Arimo: A relação entre procrastinação e distúrbios psicológicos não é uma informação amplamente divulgada. E isso pode acabar prejudicando pessoas que sofrem com isso em ambientes de trabalho, estudo e até mesmo na vida pessoal. É aconselhável, nesses casos, que a pessoa exponha o que vem enfrentando? Existe uma melhor forma para fazê-lo? 

Joyde: É importante pontuar que a procrastinação pode ser um sintoma de distúrbios, mas que sozinha, em geral, é apenas uma inconveniência. Quando houver a percepção de outros sintomas ou ela estiver em níveis difíceis de lidar, aí sim é momento de se preocupar e procurar ajuda profissional. 

Antes de expor o que enfrenta a terceiros, é preciso saber com alguma clareza o que está acontecendo e ter apoio para fazê-lo e tratá-lo.

Assim, primeiro vem a ajuda profissional. Depois, o anúncio apropriado às pessoas necessárias. 

Pode ser tentador expor as nossas dificuldades por querermos consolo e validação, porém não podemos esquecer que poucas pessoas sabem lidar apropriadamente com elas e podem até piorar o quadro.

Priorizemos o auxílio profissional.


Caso você esteja vivenciando a procrastinação de forma que ela pareça algo além do natural para sua rotina ou ritmo de vida, não hesite em procurar ajuda profissional.

Mas se esse não for o seu caso, lembre-se: desacelerar e se reorganizar não só é preciso, como também pode te trazer maior tranquilidade.