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O wellness foi longe demais?

Quando o autocuidado vira um tipo de obsessão e o bem-estar se torna alvo de produção para o lucro, será que o wellness foi longe demais?


Muito se fala sobre autocuidado hoje em dia, certo? Falamos mais sobre a importância de terapias tradicionais e métodos menos ortodoxos, cuidados com a saúde mental e física, e tudo que  nos ajuda a atingir uma qualidade de vida positiva. Todas essas coisas são, de fato, mais do que necessárias. Mas você já parou para pensar que o wellness pode se tornar uma fixação e levar a extremos que causam prejuízo ao invés de bem-estar?

A pergunta que fica é: o wellness foi longe demais?

Para algumas pessoas, a resposta é sim. E por esse motivo precisamos ter cada vez mais atenção quando o assunto é a busca por bem-estar. É preciso reflexão constante sobre o que é apresentado como ferramenta para melhora na qualidade de vida, e o que realmente é eficaz e nos faz bem.

Para ampliar sua perspectiva sobre o wellness — e seu respectivo lado negativo —, separamos esse artigo em algumas reflexões. Confira os temas nos tópicos abaixo:

  • Afinal, é possível afirmar que o wellness foi longe demais?
  • Quando o wellness se torna uma Fixação
  • Wellness também pode ser excludente?
  • Wellness e o culto ao corpo (magro)
  • Wellness virou uma indústria?
  • Wellness em ambiente de trabalho pode ser negativo?
  • Wellness e saúde mental: quando o impacto é negativo
  • Como fazer do wellness algo positivo para mim?

Afinal, é possível afirmar que o wellness foi longe demais?

Considerando que a ideia de wellness é trazer bem-estar para nossas vidas, algumas pessoas podem ainda ter dúvidas sobre seus possíveis malefícios. Por isso, vamos fazer um teste rápido. Confira as afirmações abaixo e reflita: você já se identificou com alguma delas?

  • Já me senti inferior a influencers de bem-estar — ou pessoas que mantêm esse estilo de vida — por não conseguir manter os mesmos hábitos saudáveis.
  • Me vejo como uma pessoa preguiçosa por não dedicar tanto tempo a atividades de autocuidado.
  • Já insisti em atividades que prometem bem-estar, mesmo quando não me senti bem ou não percebi resultado ao realizá-las.
  • Sinto que as pessoas que seguem rotinas de bem-estar me julgam por não me dedicar ao autocuidado da mesma forma que elas.
  • As dicas de bem-estar que vejo na internet não se encaixam na minha rotina. Por isso acho que manter uma boa saúde física e mental está distante de mim.
  • Sinto culpa quando o objetivo de alguma atividade de bem-estar não é alcançado.
  • Considerando o que conheço de wellness, acho que é necessário uma quantia de dinheiro que não tenho para manter o bem-estar.

Esses são alguns pensamentos que podem surgir diante dessa incessante busca por uma qualidade de vida positiva. E não está tudo bem.

Caso você já tenha se identificado ou ainda se identifique com alguma dessas situações, o wellness já foi longe demais para você. O que era para te fazer bem e tornar sua vida mais leve e saudável, acabou causando exatamente o contrário.

Quando o wellness se torna uma Fixação

Um outro sinal importante para se atentar quando o assunto é wellness é o nível de sua preocupação com isso. Afinal, a pressão que a busca por bem-estar pode exercer sobre alguém muitas vezes resulta em uma fixação por autocuidado. É aquela mesma ideia que falamos anteriormente: algo que era pra te beneficiar, acaba prejudicando.

Isso acontece quando, por exemplo, você planeja sua vida em função desses passo a passos de bem-estar que vê na internet e na rotina de outras pessoas. 

Entre as práticas mais populares estão:

Não se engane. Todas essas práticas podem ser benéficas para as pessoas, dependendo de seus gostos e contextos pessoais. Mas e quando todas essas — e as outras — dicas de wellness tomam tanto tempo da sua atenção e vida que se torna uma obsessão?

É possível, e as consequências são sérias. Afinal, muitas pessoas podem enxergar nesse conjunto de práticas de bem-estar a única forma de viver de maneira saudável. E isso não é verdade.

A obsessão sobre wellness também faz com você planeje sua rotina milimetricamente, sem espaço para espontaneidade e imprevistos. A ideia de não seguir essa rotina também passa longe.

Mas planejamento não significa, necessariamente, atingir um objetivo. E diversos motivos podem fazer com que tenha dificuldade em seguir essa rotina, gerando frustração e culpa desnecessárias.

Além disso, o que funciona para uma pessoa, pode não funcionar para outra. Você pode ver uma influencer vivendo muito bem ao incluir rituais de skin care na rotina dela. Se você não curtir esse tipo de prática, não encontrar produtos acessíveis ou não ver resultados na sua tentativa, uma fixação em skin care irá trazer frustração.

Wellness também pode ser excludente?

Outra reflexão válida, quando o assunto é wellness e suas respectivas práticas, diz respeito à acessibilidade.

Afinal, quem é que tem tanto tempo e recurso financeiro para incluir todas essas atividades em sua rotina do dia a dia? Nem todo mundo, certo? 

Por isso, as pessoas que não tem essas condições de buscar o bem-estar nesses moldes se tornam menos dignas de uma boa qualidade de vida? Não. Mas essa pode ser a impressão que essas pessoas podem ter sobre si mesmas, diante de uma sociedade cada vez mais padronizada até quando falamos sobre bem-estar.

O wellness, portanto, pode sim ser excludente. Pelo menos quando falamos sobre práticas e atividades que não contemplam todas as pessoas.

Wellness e o culto ao corpo (magro)

O conceito de wellness muitas vezes vem atrelado a ideias de um corpo saudável. Mas como saber se essas ideias são adequadas quando vivemos em uma sociedade em que a ideia de corpo saudável é tão deturpada?

Faça um teste no seu navegador e pesquise o termo “corpo saudável”. Grande parte dos resultados de imagens — se não todos os principais — retratam corpos magros, certo?

É preciso lembrar que magreza e corpos definidos não são sinônimos de saúde em dia. Além disso, a busca por esses ideais físicos podem também podem prejudicar a sua saúde mental.

Então, o wellness vai longe demais também quando determina um padrão único de corpo ou com pouca variedade, focando exclusivamente em magreza. Isto porque pode impactar negativamente nossa saúde mental e física. Seja com a pressão psicológica ou atitudes extremas — dietas, rotina exagerada de exercícios — para se encaixar num padrão físico.

Wellness virou uma indústria?

Quando procuramos sobre wellness e autocuidado, também é comum encontrarmos uma lista de diferentes produtos que prometem fortalecer nosso autocuidado. E muitos itens podem realmente ajudar, mas é preciso se atentar ao fato de que esse nicho de mercado vem crescendo.

Como as pessoas parecem procurar cada vez mais por formas de cuidar de si mesmas, cria-se uma indústria para suprir essa demanda.

Para se ter ideia, de acordo com esta leitura sugerida, o mercado global de wellness em 2018 foi estimado em US$ 4,5 trilhões. Isso corresponde a mais de 50% da economia de saúde (US$ 7,3 trilhões) em todo o mundo.

Nesse contexto, vale lembrar que nem sempre os produtos oferecidos ao público são exatamente aquilo que prometem ser.

Além disso, reflita sempre se você realmente precisa de algum produto para alcançar um objetivo. Afinal, muitos desses itens vendem a ideia de resultados facilitados ou mais rápidos, e, às vezes, os processos longos são necessários. Principalmente  para você entender seu corpo, sua mente e suas necessidades.

Por isso, vale atenção extra aos produtos que você vê por aí como ferramentas de bem-estar. Em caso de medicamentos dentro desse universo, também é preciso sempre escutar a opinião de um profissional da área para se certificar se funciona para seu caso. 

Wellness em ambiente de trabalho pode ser negativo?

Com a merecida valorização do bem-estar, algumas empresas implementaram atividades de wellness em suas rotinas. E apesar de ser uma atitude incrível, é preciso ter olhar crítico. Afinal, essas companhias podem alegar que oferecem o melhor ambiente de trabalho possível e, por isso, não são responsáveis por possíveis falhas ou problemas de produtividade dos funcionários.

É o que aponta os estudos da “síndrome do wellness”, de Carl Cederstrom e Andre Spicer, que adotam uma visão crítica da busca por bem-estar em todas as esferas da vida.

No ambiente profissional, por exemplo, vamos supor que você trabalha em uma empresa que é referência de local de trabalho descontraído. Lá, durante o expediente, você pode jogar algo com os amigos, levar os pets para fazer companhia ou até tirar um cochilo para descansar. 

Apesar de parecer o sonho de qualquer trabalhador, esse ambiente não impede que a pessoa passe por um processo de esgotamento. O famoso burnout pode ocorrer até mesmo porque o ambiente é tão convidativo, que você passa horas ali trabalhando apenas para mostrar produtividade. Para justificar à empresa que o investimento deles no seu bem-estar é válido.

Com isso, a empresa pode se eximir de qualquer responsabilidade. A culpa recai inteiramente sobre você. E aí entramos novamente no ciclo de frustração, culpa e pressão psicológica.

Esse é apenas um exemplo de como o bem-estar no ambiente de trabalho pode ser usado por empresas de forma capciosa contra você.

Isso não quer dizer que as empresas não devem investir em oferecer um ambiente de trabalho que proporcione bem-estar a seus funcionários. O que precisamos nos atentar nesses casos é como isso é feito, além de fugir de armadilhas mentais que podem mais prejudicar do que beneficiar sua qualidade de vida.

Wellness e saúde mental: quando o impacto é negativo

Para muitas pessoas, a busca por bem-estar pode levar a caminhos que levam a uma saúde mental de péssima qualidade.

Já falamos aqui várias vezes sobre pressão psicológica, frustração e culpa. Esses são alguns dos sentimentos que podem te acompanhar em um processo de busca por autocuidado que não é adequado para você. E, em alguns casos, pode piorar ou causar sofrimentos psíquicos caracterizados como depressão e ansiedade.

Como fazer do wellness algo positivo para mim?

É preciso reforçar que o autocuidado não é algo negativo. Aqui na Arimo, inclusive, incentivamos práticas de wellness e publicamos frequentemente sobre elas no blog. Mas a chave é sempre o nível que essas atividades de bem-estar ocupam em nossas vidas.

Não é porque o yoga é cheio de benefícios, por exemplo, que você deve voltar todos os aspectos da sua vida exclusivamente para essa prática e todo o universo que a envolve. É necessário equilíbrio e reflexão. Nesse último caso, é interessante olhar de forma objetiva para essas ferramentas de bem-estar na sua vida e verificar se está mesmo fazendo bem.

Além disso, algo importante na busca por uma saúde física e mental de qualidade é visar constantemente o autoconhecimento. Isto porque quando você sabe o que seu corpo e sua mente precisam, fica um pouco mais fácil encontrar os processos adequados para você.

Caso não fique mais fácil, não se preocupe: busque ajuda de profissionais de sua confiança. Essas pessoas certamente poderão te ajudar a pensar diferentes rotinas, atividades e formas de alcançar o seu bem-estar. Aquele que é feito para você exclusivamente, e não necessariamente reflete o que a indústria do wellness e influencers desse nicho te fazem acreditar que você precisa.

Então, em resumo, para que a busca por bem-estar realmente resulte em benefícios, vale investir em:

  • autoconhecimento
  • atividades que te dão prazer
  • olhar para si (e para as outras pessoas) com gentileza e respeito
  • atividades que melhoram sua saúde física
  • uma forma física de qualidade saudável, ao invés de magra
  • pesquisar a fundo sobre produtos da indústria de wellness
  • respeitar os seus processos