Conheça mais sobre o carbono negativo: a estratégia que visa não só diminuir a emissão de carbono, mas removê-la da atmosfera.
Você já parou para perceber que o tema “mudanças climáticas” vem ganhando cada vez mais espaço no debate público? Já tentou entender os motivos pelos quais isso vem acontecendo?
Muitas pessoas podem simplesmente responder mencionando os desastres naturais que atingem o Brasil e o mundo nos últimos anos. E essa resposta também é válida.
Mas é preciso irmos mais a fundo e reconhecer que o sistema em que vivemos vem agravando essa crise há anos. E, mais especificamente, nas últimas três décadas, uma das principais ameaças ao planeta só vem se fortalecendo: a emissão desregrada de dióxido de carbono (CO2), uma das causadoras do aquecimento global.
De acordo com reportagem da BBC, mais da metade da emissão global de CO2 ocorreu a partir dos anos 90. Por aí já começamos a entender não só o motivo pelo qual as mudanças climáticas e estratégias para combatê-las são tão discutidas atualmente.
Uma dessas estratégias, inclusive, propõe que empresas retirem da atmosfera níveis de CO2 além do que elas emitem E é sobre ela que iremos falar hoje: a iniciativa carbono negativo.
Confira abaixo o resumo deste artigo.
- A importância do controle na emissão de dióxido de carbono
- O que é carbono negativo?
- Qual é a diferença entre carbono negativo e demais estratégias?
- Carbono negativo além das tecnologias: créditos de carbono
- Como posso incluir o conceito de carbono negativo em minha vida?
- Quais empresas atuantes no Brasil operam em modo carbono negativo?
A importância do controle na emissão de dióxido de carbono
Antes de nos aprofundarmos na ideia do carbono negativo, é preciso entender a importância do controle na emissão de dióxido de carbono. E não é nem muito difícil. Afinal, esse é um conceito ao qual somos apresentados ainda muito jovens, geralmente durante nossos anos de escola.
Lembra do efeito estufa, aquele mecanismo que ajuda a manter nosso planeta na temperatura ideal? Então, ele funciona através da retenção de calor na atmosfera, algo que alguns gases conseguem realizar. E, entre eles, claro, o CO2.
Mas quando o dióxido de carbono é emitido de forma desenfreada, a retenção de calor também cresce, e com isso, a temperatura no planeta aumenta. A longo prazo, como evidenciamos em primeira pessoa, este é o caminho para o tão temido aquecimento global que vivemos.
Então, em resumo, a importância do controle na emissão de CO2 tem ligação direta com o aquecimento global — um problema que vem diminuindo as expectativas de vida útil da Terra.
E é diante deste cenário catastrófico, que surgiram algumas iniciativas que vem ganhando mais espaço dentro de diferentes indústrias.
O que é carbono negativo?
Na tentativa justamente de controlar a emissão de CO2, algumas iniciativas acabaram surgindo. E entre elas se destaca a chamada carbono negativo, que conta com uma das propostas mais transformadoras para seu próprio funcionamento e para o meio ambiente.
A ideia por trás do conceito de carbono negativo é a de não só controlar a emissão de dióxido de carbono, mas remover mais do que se emite. Ainda não entendeu exatamente como isso é possível? Te explicamos!
Imagine que uma empresa emite cerca de 2 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Para que ela opere em modo carbono negativo, é preciso que ela retire ou retenha mais de 2 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera.
E é possível fazer isso através de diferentes formas: uma delas inclui a captura e armazenamento de dióxido de carbono para geração de energia, por exemplo. Outra possibilidade, que, inclusive, surpreende por sua inventividade, é a da startup Air Company: que transforma CO2 em etanol para fazer vodka.
Pode parecer confuso, mas como Stafford Sheehan, cofundador da Air Company, afirma, basta olhar para os processos da natureza para entender melhor.
“Isso é inspirado na fotossíntese da própria natureza. As plantas respiram CO2. Elas absorvem água e usam energia na forma de luz solar para fazer coisas como açúcares e outros hidrocarbonetos de alto valor, tendo o oxigênio como único subproduto. É a mesma coisa com nosso processo,” conta Sheehan em entrevista ao portal Um Só Planeta.
Através dessa comparação, o executivo mostra que a produção da Air Vodka segue uma lógica até mais simples do que se imagina.
Para garantir o título de carbono negativo, existe ainda a possibilidade de compra de créditos de carbono. Mas explicamos melhor esse conceito depois. Antes, vamos entender as diferentes iniciativas que buscam diminuir os danos ao meio ambiente.
Qual é a diferença entre carbono negativo e demais estratégias?
Além do carbono negativo, outras estratégias foram desenvolvidas com o objetivo de compensar a chamada pegada de CO2 — ou seja, o nível de gás emitido na atmosfera. E se você já andou procurando sobre o carbono negativo, provavelmente se deparou com os conceitos de carbono neutro e baixa emissão de CO2.
No caso da baixa emissão, o termo já é bem intuitivo, certo? Aqui se encaixam as iniciativas que, de diferentes formas, apenas diminuem a quantidade de CO2 que se emite através de determinados processos. A utilização de energia renovável por parte de uma empresa, por exemplo.
O carbono neutro, por sua vez, já conta com uma proposta de maior transformação: neste caso, a ideia é compensar os níveis de emissão.
Uma vez que entendemos isso, retornarmos ao exemplo anterior: vamos supor que uma empresa emita, anualmente, 2 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Se ela opera em uma lógica carbono neutro, deve investir em tecnologias que retirem também 2 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera.
Inclusive, a lógica de carbono neutro, muitas vezes, é utilizada como parte do processo para as empresas se tornarem carbono negativo mais para frente. Isto porque para compensar e retirar CO2 da atmosfera, uma companhia deve repensar e adaptar diversas operações de sua cadeia produtiva. E a lógica de neutralizar as emissões funciona como um degrau em direção à lógica de negativá-las.
Então, agora você já sabe. Enquanto carbono negativo compensa os níveis de CO2 emitidos e ainda retira uma quantidade extra da atmosfera, a lógica do carbono neutro é a de apenas retirar a quantidade de CO2 que é emitido. Já as iniciativas de baixa emissão não trabalham com níveis de compensação, elas somente diminuem a quantidade de gás que emitem.
Carbono negativo além das tecnologias: créditos de carbono
Além da utilização de tecnologias, como as citadas anteriormente, outra forma de compensar e negativar a emissão de CO2 é comprando créditos de carbono. E se o papo aqui já fica ainda mais confuso para você, tentamos simplificar.
Os créditos de carbono são como uma moeda do chamado mercado de carbono, e circulam por todo o mundo, com diferentes legislações e valores em cada país. Mas como funciona esse mercado e a utilização dessa moeda?
Bom, os créditos são gerados a partir de projetos que visam a redução das emissões de CO2. Então, quando um país tem esse tipo de projeto, a redução que ele causa, gera créditos que podem ser comercializados para outros países e até mesmo empresas.
Inclusive, este é um método que vem crescendo na operação de diversas empresas que decidem diminuir ou acabar com sua pegada de carbono.
Como posso incluir o conceito de carbono negativo em minha vida?
Antes de qualquer coisa, é preciso entender que basicamente tudo emite CO2 na atmosfera. Mas a emissão que vem causando danos ao ambiente é, especificamente, aquela que acontece dentro de indústrias.
Para se ter noção, atualmente, mais de 80% da emissão de CO2 na atmosfera tem origem na queima de combustíveis fósseis para a produção de energia e materiais, como aponta a BBC.
Então, é complicado pegar as regras baseadas na operação de diversas empresas e organizações e aplicar em nossa vida a nível pessoal.
Obviamente que se envolver com iniciativas de reflorestamento é uma forma de ajudar o planeta e incluir na sua vida uma técnica de redução na emissão de carbono. Mas o problema não está diretamente ligado aos nossos hábitos diários, e sim ao consumo de produtos e serviços que fazem parte dessa rotina.
Atualmente, a forma mais acessível com a qual podemos, como pessoas, fazer parte do conceito de carbono negativo é consumindo de empresas que se comprometem com essa iniciativa. Isto porque, quando cresce o consumo de produtos e companhias comprometidas com a prática de carbono negativo, a indústria, como um todo, é incentivada a operar na mesma lógica.
Quais empresas atuantes no Brasil operam em modo carbono negativo?
Se você se identifica com as propostas de carbono neutro e carbono negativo, vale super a pena pesquisar quais empresas operam nesta lógica no Brasil e no mundo. Além disso, vale também ficar de olho naquelas que incluem em suas metas a mudança de suas operações para compensar suas emissões de CO2.
Mas, primeiramente, vamos focar nas companhias que colocam o carbono negativo no mapa do Brasil.
Amaro
A Amaro comercializa produtos próprios e de marcas parceiras de moda, beleza, bem-estar e casa. E desde 2021, opera sob a lógica de carbono negativo. De acordo com reportagem da CNN, a empresa mapeou sua quantidade de emissão de CO2 por três anos, chegando a uma emissão equivalente a 15 mil toneladas do gás.
A partir desse valor, eles implementaram mudanças em seus processos — indo da produção à entrega dos produtos. Mas a redução na emissão de CO2 é feita atualmente através da compra de créditos de carbono, aquela moeda que falamos mais acima, lembra? E, desta forma, a Amaro conseguiu negativar 30 mil toneladas de CO2.
Linus
A empresa de calçados veganos Linus é outra que traz em suas mais recentes práticas de produção a lógica carbono negativo. De acordo com a própria empresa, atualmente sua pegada de carbono equivale a 0,364kg de CO2e por unidade — e a maior porcentagem desse valor tem origem nos processos de produção e transporte.
Após o mapeamento, a Linus aderiu à compra de créditos de carbono, adquirindo 72 deles. Ao retirar 72 toneladas de CO2 da atmosfera, a empresa negativou mais do que o dobro da quantidade que emite na atmosfera.
Quais empresas têm planos de compromisso com essa causa?
Outras empresas que podemos citar aqui são aquelas que não chegaram ao nível carbono negativo, mas ainda pretendem. Esse é o caso da Microsoft, por exemplo. A empresa divulgou o plano de se tornar carbono negativo até 2030. Já até 2050, o compromisso é retirar da atmosfera toda a quantidade de CO2 emitida desde que a empresa foi fundada, em 1975.
A gigante Apple, que já funciona em modo carbono neutro em algumas de suas operações, pretende estender essa lógica. De acordo com a própria empresa, “até 2030, cada produto Apple vendido também terá um impacto climático neutro.”
Também se comprometem — a médio ou longo prazo — com essa causa, grandes empresas como Nike, a nacional Natura, e a Unilever, por exemplo.
Quer conhecer mais iniciativas interessantes que visam o bem-estar do meio ambiente? Leia nosso artigo sobre economia circular — uma lógica de mercado que busca romper com a dependência entre desenvolvimento econômico e os recursos finitos do planeta.