Você já escutou falar em autossabotagem? Saiba o que é isso, como nos afeta e como evitar essa armadilha que tem se tornado cada vez mais comum.
Quem nunca procrastinou um trabalho e depois se arrependeu porque precisou passar o fim de semana trabalhando, ao invés de curtir a folga?
Ou quem nunca esperou o momento certo para fazer algo e se culpou por sentir que perdeu uma oportunidade, já que o tal momento parece nunca chegar?
Talvez você não saiba, mas esses comportamentos podem caracterizar o que chamamos de autossabotagem — uma armadilha que tem se tornado cada vez mais comum.
Mas o que mais é considerado autossabotagem? Por que nos autossabotamos? Como podemos fugir desse tipo de comportamento?
Neste texto oferecemos algumas perspectivas que ajudam a responder essas e outras perguntas sobre o tema.
- O que é autossabotagem?
- Procrastinação é autossabotagem
- Quais são os tipos mais comuns de autossabotagem?
- Passar muito tempo nas redes sociais é autossabotagem?
- O que é comida de conforto e por que é considerada autossabotagem?
- Responsabilidades e compromissos e autossabotagem
- Por que nos autossabotamos?
- Casos mais graves de autossabotagem
- Como a autossabotagem nos afeta?
- Autossabotagem e culpa
- Como identificar e evitar a autossabotagem?
Atenção! O texto a seguir pode conter gatilhos para algumas pessoas, e os trechos estão sinalizados com *alerta de gatilho*.
O que é autossabotagem?
Para começar essa conversa, é bom destacar que a autossabotagem é algo extremamente relativo.
Isso quer dizer que o que pode ser autossabotagem para uma pessoa, pode não ser para outra. Mas então, como definir o que esse termo significa?
No geral, a autossabotagem é uma forma de proteção do nosso inconsciente. Na tentativa de nos proteger de algum tipo de dor e de entrar em contato com gatilhos psicológicos, acabamos tomando atitudes que também nos prejudicam em algum nível.
Então, a autossabotagem é caracterizada por comportamentos que nos afastam de situações que são difíceis para nós.
Mas, ao mesmo tempo, acaba nos afastando também de conquistas, alegrias, relacionamentos saudáveis, novas experiências e uma diversa gama de vivências que nos ajudam a viver plenamente.
Procrastinação é autossabotagem?
Um exemplo que pode ajudar a entender melhor o conceito de autossabotagem é o da procrastinação, que é tão comum em nossas rotinas.
Novamente: quem nunca?
A atitude de adiar tarefas e responsabilidades pode ser justificada de diversas formas, como medo de falhar, desmotivação e até mesmo falta de interesse.
Todos aspectos negativos, e que não queremos vivenciar com frequência, o que faz com que, consciente ou inconscientemente, algumas pessoas tentem evitar.
Por outro lado, adiar o contato com essas sensações ruins pode trazer prejuízo no trabalho, vida acadêmica, gerar ansiedade e atrapalhar outros aspectos da vida. Em resumo, se torna uma forma de autossabotagem.
Afinal, além de proporcionar sentimentos negativos, também te impede de viver experiências que podem ser positivas.
Vamos considerar aqui que você teve a semana inteira para desenvolver uma tarefa de trabalho que precisava ser entregue na sexta-feira.
É quinta-feira e você nem mesmo começou esta tarefa.
Ao longo da semana, você pode até se sentir bem, livre, sem problemas para resolver.
Mas, ao chegar na véspera da entrega, você precisa lidar com diversas situações e sentimentos nada legais.
Nesse caso, a procrastinação pode gerar:
- pressão psicológica para a entrega do trabalho dentro do prazo
- a possibilidade de não entregar um resultado tão bom quanto poderia, caso tivesse mais tempo
- possíveis sintomas de ansiedade, por ter um tempo apertado para resolver o problema
- acúmulo de tarefas, juntando com outras responsabilidades tanto do trabalho, quanto de fora dele.
Posteriormente, você pode ter sua imagem no trabalho comprometida, perder oportunidades de bonificação e promoção, e ainda prejudicar sua própria saúde mental.
Esse é só um exemplo de como funciona essa lógica da autossabotagem: de tentar se proteger de uma situação, mas acabar se prejudicando em algum nível. E isso se manifesta na vida de cada pessoa de formas diferentes.
Quais são os tipos mais comuns de autossabotagem?
A autossabotagem até pode ser algo relativo. Mas algumas atitudes caracterizadas como tal são mais comuns do que outras. São elas:
- Procrastinação
- Tempo excessivo gasto nas redes sociais
- Comida de conforto
- Evitar responsabilidades e compromissos
- Abuso de substâncias
Passar muito tempo nas redes sociais é autossabotagem?
Quem não acaba, vez ou outra, passando tempo demais nas redes sociais?
O que muitas pessoas podem não saber é que um dos passatempos mais populares atualmente também pode ser considerado uma autossabotagem.
Primeiramente porque o tempo e a frequência de uso das redes sociais pode caracterizar uma espécie de vício. Neste caso, o impulso de estar online acaba prejudicando o estudo, trabalho e até relações afetivas.
Isto porque tudo isso fica em segundo plano diante do uso dos dispositivos eletrônicos.
Mas além disso, vale considerar também o conteúdo que consumimos nas redes. O ambiente online esconde muitas armadilhas, quando não estamos devidamente preparados para utilizá-lo.
Se só seguimos pessoas que nos chateiam ou nos fazem comparar suas vidas com as nossas, por exemplo, já é um tipo de autossabotagem.
Outro exemplo é quando nossos feeds das redes sociais são repletos de padrões de vida e beleza inalcançáveis.
Quando somamos esses aspectos ao tempo e uso excessivo nas redes, podemos ser fortemente impactados por sentimentos ruins.
Nesse processo podemos nos ver como pessoas inferiores às outras, por exemplo. Já que, nas redes sociais, as pessoas costumam compartilhar apenas o lado bom, bonito e material da vida.
O que é comida de conforto e por que é considerada autossabotagem?
Sabe quando você diz pra si que merece comer aquele doce ou alguma outra comida, após realizar alguma tarefa ou em um momento de tristeza/ansiedade?
Isso é o que chamamos de comida de conforto, por trazer a sensação de conforto em um momento difícil.
E, por mais que seja uma compensação saborosa, também pode ser considerada uma autossabotagem.
A comida de conforto se torna uma forma de se sabotar porque condiciona nosso corpo a desejar algo saboroso sempre que estiver diante de uma situação indesejada/incômoda.
Além disso, é comum que as comidas que desejamos nesses momentos sejam aquelas que nos fazem mal, se consumidas em excesso, como alimentos industrializados ou muito gordurosos.
Desta forma a comida de conforto acaba ainda prejudicando nossa saúde.
*alerta de gatilho*
É preciso ficar de olho quando temos esse tipo de autossabotagem em nossa rotina. Isto porque pode caracterizar algum nível de compulsão alimentar.
Responsabilidades e compromissos e autossabotagem
Às vezes, algumas decisões que tomamos — sejam elas conscientes ou não — afetam negativamente também a forma como lidamos com responsabilidades e compromissos.
É o caso de quando, por exemplo, sabemos que precisamos acordar cedo na manhã seguinte, mas ainda assim ficamos acordados até tarde da noite.
Este pode parecer um comportamento comum, mas não deixa de ser autossabotagem.
Afinal, ao fazer isso, você está colocando em risco sua possibilidade de cumprir com uma responsabilidade ou compromisso.
E mesmo que você consiga cumpri-los, arrisca também seu desempenho e seu bem-estar físico e mental.
Por isso, evitar responsabilidades e compromissos — sejam eles amorosos, profissionais, afetuosos, educacionais — é considerado uma forma de autossabotagem.
Isto porque, ao evitá-los, você está se impedindo de desenvolver diversos aspectos de sua vida.
Claro que há momentos em que você não se sente preparado para lidar com algumas responsabilidades e alguns compromissos. Mas é importante que você tente e, caso inicialmente não consiga fazer isso por conta própria, busque a ajuda necessária.
Por que nos autossabotamos?
Mas por que nos autossabotamos? Quais são as razões para esses tipos de comportamento?
A verdade é que os motivos da autossabotagem também variam de pessoa para pessoa, sendo influenciados pelas experiências pessoais de cada um. Mas também há algumas justificativas mais comuns, como:
- medo de falhar
- receio ou supervalorização da opinião alheia
- síndrome do impostor
- baixa autoestima
- medo de tomar decisões importantes
- medo de conflitos e entrar em contato com gatilhos/dores
Como você pode notar, muitos desses porquês tem a ver com medos.
Isso não quer dizer que quem se sabota é pouco corajoso. Na verdade, todos esses medos revelam que algumas pessoas podem ter maior dificuldade diante de desafios e situações que vão do incômodo ao gatilho para sofrimentos psíquicos.
Casos mais graves de autossabotagem *alerta de gatilho*
Existem casos mais graves de autossabotagem. Aqueles que podem colocar em risco a integridade física e mental tanto de quem está se sabotando quanto de pessoas próximas.
Dois casos que exemplificam essas situações mais graves de autossabotagem são (*alerta de gatilho*) automutilação e abuso de substâncias.
No caso da automutilação, falamos especificamente da integridade física e o risco à saúde física da pessoa.
Mas não deixa de caracterizar algum tipo de dano à integridade mental do indivíduo.
Fato é que afeta terceiros de forma mais indireta.
Já o abuso de substância é um tipo de autossabotagem que pode ir além do dano à quem faz o uso excessivo da substância, impactando também a vida de pessoas próximas.
Em ambos os casos, a pessoa sabe que está fazendo mal a si mesma, mas, sozinha, não consegue romper com esse ciclo e padrões de comportamentos nocivos. Por isso é extremamente importante a ajuda profissional qualificada.
Como a autossabotagem nos afeta?
Assim como os tipos de autossabotagem são diversos, as consequências também são, podendo afetar qualquer aspecto da sua vida.
Formas de se sabotar como procrastinação e evitar compromissos e responsabilidades, por exemplo, podem afetar especialmente sua vida profissional.
Esse tipo de comportamento é capaz de te tirar oportunidades de trabalho e prejudicar seu desempenho e imagem profissional.
O mesmo vale para os estudos.
A tentativa de evitar compromissos e responsabilidades, assim como abuso de substâncias, podem afetar negativamente as relações da sua vida. Desde a sua relação consigo até a relação com amigos, familiares e parceiros amorosos.
As comidas de conforto, por outro lado, podem afetar negativamente sua saúde física.
Autossabotagem e culpa
A autossabotagem, no geral, mantém você em um ciclo vicioso alimentado por medos, como mencionamos no tópico “por que nos autossabotamos”.
Mas é importante ressaltar que a autossabotagem nem sempre é uma escolha. Muitas vezes, é um comportamento que denuncia diferentes tipos de sofrimentos psíquicos.
Então não se culpe por isso e procure entender como desviar dessas atitudes quase automáticas.
Sabemos que no discurso é muito mais fácil do que na prática. Mas uma dica é justamente tentar tirar o foco da culpa e reverter para a compreensão dos sentimentos negativos e formas de evitá-los.
Mas o que fazer quando até isso se torna difícil?
Como identificar e evitar a autossabotagem?
Existem diversas formas que podem ajudar você a identificar casos de autossabotagem na sua rotina. E uma delas, muito comum, é a de fazer um registro manual mesmo.
Você pode usar um caderno, bloco de notas do celular, ou qualquer outra forma de anotação.
O importante é você registrar quando se sente mal diante de uma atitude tomada por você.
Procure detalhar como você se sente e o que você consegue entender do que causou esse sentimento negativo.
Por exemplo, digamos que você esteja se sentindo culpada. A partir disso, escreva o que levou a esse sentimento, quais decisões você tomou e que te fizeram chegar neste momento, descreva outras sensações que isso te causa — sejam físicas ou não.
A partir de então, vale fazer isso sempre que se sentir culpada, e comparar uma situação e outra, para identificar possíveis padrões de comportamento.
Mas, caso essa alternativa não funcione para você, não se preocupe ou se culpe.
É comum que haja dificuldade na identificação de motivos e padrões de comportamentos nocivos. Principalmente porque muitos desses comportamentos podem ser mais inconscientes do que conscientes.
Ou seja, você toma essas atitudes automaticamente, sem refletir sobre.
Nesses casos, é de extrema importância o acompanhamento e orientação profissional e psicológica.
Na verdade, mesmo que não chegue a um extremo, a ajuda profissional é muito importante. Isto porque nos ajuda a identificar a autossabotagem e pensar estratégias para evitá-la.
Até porque, além de tudo, a autossabotagem também pode caracterizar sintomas de diversos transtornos mentais que necessitam de tratamento qualificado.
Então, se você acredita que esse tipo de comportamento é algo comum na sua vida, não deixe de procurar por ajuda profissional.
Confira um pouco mais sobre saúde mental aqui. Em caso de urgência, ligue 188 e fale com alguém do Centro de Valorização da Vida (CVV).